segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Problema da Comunicação

Considerações

O problema da Comunicação não é assunto de apêndice ou nota de rodapé - é tema capital. Embora o fenômeno ocorra com naturalidade em todas as sociedades e dê mostras de simplicidade quando observado “de longe”, sua complexidade levou o mundo acadêmico a dedicar-lhe uma Cadeira no mundo das Ciências.

A enigmática da Comunicação encontra seus primórdios nas teogonias, sejam bíblicas ou mitológicas.
·         A narração bíblica em Gênesis 11 afirma que todos os homens falavam a mesma língua o que os levou e se juntaram num projeto ecumênico de grande ambição: construir uma torre cujo topo adentraria os portais celestes. Deus reprovou este desígnio e confundiu a linguagem humana naquele lugar o qual passou a ser chamado de Babel, cujo significado varia entre “porta de Deus e confusão[3]”. A partir dali a comunicação humana sofreu uma fissura que só a muito custo pode ser minorada.

·         A teogonia mitológica grega não parte da origem do problema, mas de uma solução paliativa para os privilegiados deuses. Segundo o mito de Hermes[4] a comunicação entre os deuses e os homens era quase impossível, pois se tratavam de dois universos díspares. Como Hermes preferia a companhia dos homens à dos deuses, tornou-se hábil mensageiro e profundo conhecedor dos anseios humanos. Quando os deuses queriam comunicar-se com os homens concordavam em utilizar-se de Hermes, o intérprete do Olimpo e da Hélade.

Analisando as duas teogonias encontramos, já na antiguidade, a preocupação com o problema da comunicação. Embora revestida de roupagem religiosa elas nos ajudarão a perscrutar os símbolos implícitos nelas.

1º.    O problema é de ordem ética (segundo a bíblia). A comunicação perfeita se justifica por seus fins (para o certo). Quando desviada de seu propósito ético, a comunicação vai, fenomenalmente, sofrer alguma fissura. Um dos seis elementos da comunicação vai impedir que o processo se conclua, pois ao mesmo tempo em que servem de facilitadores também atuam como filtros. Estão implicados em uma só finalidade e são cúmplices uns dos outros no processo inteiro;
2º.    A solução é de ordem pragmática (segundo o mito). A comunicação se dá por utilitarismo. Se alguém está “mesmo” interessado em comunicar algo, vai aceder às exigências do Teorema da Comunicação. Vai, antes de tudo, emitir sua mensagem em conformidade com o contexto que cerca o receptor. Vai adequar o código lingüístico à capacidade transmissora do canal utilizado.

Concluindo: O fenômeno da comunicação sempre se dará quando cumpridas as ordens éticas dos seis elementos constitutivos do processo. Se violadas as regras os elementos servirão de agentes podadores da comunicação, ou se preferirmos, de filtros éticos. Cabe ao emissor a responsabilidade última por se fazer comunicar. Se, de fato, é importante sua mensagem, cumprirá com as exigências do Teorema e cumprirá seu bom intento.

Aplicando as considerações ao texto de Veríssimo


            O autor lírico faz girar seu texto em torno de um problema de comunicação entre o emissor e o receptor. É do maior interesse do comprador fazer-se entender e este empreende esforços legítimos para alcançar seu fim: admite que esqueceu o nome do objeto pretendido, mas faz descrições precisas dele. O interlocutor compromete-se a entender a mensagem por que o cliente entrou no contexto do comerciante, ou seja, na loja. Embora pertencentes a mundos diferentes, falam o português, embora um esteja mais afeito ao vocabulário técnico e o outro ao vulgar. No final a mensagem alcançou o destinatário, embora a muito custo.
           

Esclarecimento Pessoal


Quando afirmo que a comunicação deve possuir finalidade ética não estou me referindo à moralidade das pessoas que se envolvem no processo, mas na eticidade do teorema. Como ele dispõe de mecanismos justos para realizar o ato comunicativo e não permite exceções no trato da matéria. Ele se compromete a fazer o destinatário receber a mensagem conforme saiu do emissor, desde que o emissor cumpra suas exigências normativas. Assim fizeram os deuses com Hermes proibido-o de mentir, mas Hermes se deu o direito de dizer apenas parte da verdade.


[1] http://3.bp.blogspot.com/_WatrZzNJ-cI/S-7dn4anYcI/AAAAAAAAAMM/oDwhRcez9Jk/s1600/Sem+t%C3%ADtulo.jpg
[2] VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comunicação. In: ______. Para gostar de ler. 3.ed. São Paulo: Ática, 1982. v. 7. p. 35-37
[3] Maiores detalhe podem ser consultados em http://www.bibliaonline.net/dicionario/
[4] Um aprofundamento sobre o mito encontra-se em http://www.portaldapsique.com.br/Artigos/Mito_de_Hermes.htm

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