1. Antropologia é a ciência que estuda o Homem em sua constituição biológica, social, política, religiosa, cultural e científica.
2.
Missiológica
por que direciona este estudo às finalidades soterológicas, ou seja,
salvacionistas. A antropologia missiológica pesquisa as origens do homem,
procurando saber por que se tornou como é. O que deve ser mudado nele no que
respeita à suas relações com Deus. Como pode a teologia auxiliar na salvação deste
homem.
3.
É importante ao teólogo ter ciência que o “homem em
estudo” já está em processo decadente. Não temos um primata à nossa frente, e
sim, o homo sapiens, ou, homem
racional, socialializado, localizado dentro de sua cultura e viciado no pecado.
É um produto acabado, ou seja, é um pecador. Este pecador de hoje foi um
inocente outrora. No princípio, Deus criou um ser vivo utilizando-se do pó da
terra. Seu nome era Adão e significava humanidade.
Este primeiro homem foi gerado em estado
de inocência, portanto, sem culpa.
4.
Diferente dos anjos, cuja natureza é simples
(espiritual), o homem possui natureza composta (matéria e espírito). Esta
dicotomia humana o situa em dois mundos, a terra e o céu. Um é etéreo, o ou
outro é físico. Um é eternal e o outro é temporal. Um se regula por
relacionamentos e ou outro por leis. Um é orgânico e o outro é químico. O
primeiro permanece, o segundo, passa.
5.
Este primeiro homem foi instalado em um lugar
paradisíaco, nutrido por toda sorte de árvores frutíferas, e duas em especial:
da Vida e do Conhecimento. Uma era Vital e a outra era Mortal. Aquela que
manteria o homem vivo o ligava ao mundo de Deus, era lícita. A outra mataria o
homem, ligando-o ao mundo sem Deus. Adão ficaria em estado ideal, caso não
comesse do fruto gnosiológico, ou, do conhecimento.
6.
O estado idílico, ou eidético, ou edênico, mantinha
Adão em comunhão com o céu. Ele não era perfeito, contudo, não tinha defeitos.
Adão era perfectível, portanto, passível de errar. Mas esta possibilidade de
errar (pecar em grego), fora reduzida
ao mínimo, já que Deus lhe dera autonomia
existencial. Tudo era lícito ao homem. Ele era a coroa da criação, senhor
das criaturas terrenas, o cabeça da raça. Sua palavra seria viva, seus
pensamentos seriam nobres, suas atitudes seriam plausíveis e sua postura, criacional.
Havia um único porém: Faltaria o contraditório.
7.
Adão viveu “n
anos” nesse estado perfectível. A bíblia chama esta época de “sexto dia”,
tempo suficiente para ele nomear todos os animais e tomar consciência de sua
solidão. Neste dia, Deus formou um outro ser humano, de gênero feminino, e o
trouxe para o homem. (A necessidade deste outro ser dá mostras da imperfeição
de Adão, uma vez que não encontra em si mesmo o subsídio para a solidão). Este
novo ser foi chamado Eva, que significa vida.
Dela viriam os filhos de Adão, dando aos homens um status existencial superior
aos anjos, já que poderia dar a vida a outro ser a partir de si mesmo, coisa
impossível aos anjos. Ambos viviam sem culpa, logo, tinham natureza inocente.
8.
O estado de inocência igualava o homem ao lugar em que
moravam. No Édem, jardim de Deus, não havia o pecado e suas consequências. Mas
a existência da árvore do bem e do mal instigou Eva à prática do erro. Por
tentação de Satanás, a mulher comeu do fruto proibido. Até aí, não estava a
morte no mundo. Sendo apenas Eva a comer do fruto, não havia pecado racial,
somente pecado pessoal. A ordem para Eva vinha de Adão, logo, ele deveria
aplicar-lhe a pena capital, privando-a da árvore da vida e banindo-a do jardim.
Mas ele também comeu, sem a tentação de Satanás, e ciente da proibição direta
que Deus lhe dera. Naquele instante o pecado entrou no mundo, e com ele, suas
consequências. O estado de inocência desapareceu e Adão tornou-se pai dos
pecadores.
9.
A decadência ocasionada pela queda de Adão
generalizou-se em toda sua descendência. Sendo banido por Deus daquele mundo
paradisíaco, Adão viu-se privado dos frutos vitalizantes, e a terra amaldiçoada
por sua causa, não germinaria gratuitamente o alimento para os pecadores. Agora,
no mundo sem Deus, o homem terá pouco tempo de fôlego, e após muita fadiga,
voltará ao pó, morto para sempre. A única forma de continuar vivo será gerando
filhos, i é, dando de sua vitalidade para outro e depois, partindo só para o
além.
10. Este
além é um mundo sem luz, onde a parte imaterial do homem sente-se aprisionada,
uma vez que foi destituída do corpo. Chamam-no de túmulo, sepulcro e sheol, ou,
morada dos mortos. Ali a decadência do homem alcança seu degrau mais baixo.
Isto por que o pecado é um processo desumanizador, ou seja, todo o tesouro
divino depositado no homem é desvalorizado, ao ponto de não restar o menor
traço da identidade espiritual que Deus imprimiu-lhe. É uma espécie de
demonização, onde o ser humano transfigura-se em ser diabólico e satânico,
voltado para a morte, que é a vida sem Deus e a oposição a Deus.
11. Daí
ser a história do homem uma tragédia, marcada pelo pecado e o distanciamento de
Deus. Presente neste mundo está Satanás, com sua tirania multimilenar e afronta
contínua ao Criador. Este opositor de trevas mantém um principado na terra,
acorrentando os homens e suas instituições a seu império de morte. Toda
tentativa humana em busca do paraíso perdido, ou seja, aos benefícios da vida
presente, resultam em corrupção, ganância, ódio, guerras, morticínio, e outras
ramificações da maldade. Se os homens instituem um Estado, Satanás o torna
opressor, lançando mão da política, da cultura, da educação, da ciência e da
religião. Se os homens organizam uma sociedade, Satanás espalha a discórdia, a
competição desleal, a concorrência nefanda e a desconfiança mútua. O mundo sem
Deus, tendo Satanás como príncipe e os pecadores como súditos foi o resultado
da escolha adâmica naquele dia da queda humana.
12. Há,
contudo, um trunfo divino na história humana: Livre arbítrio! Foi por escolha de Adão que o pecado entrou no
mundo. É por decisão de Cristo que o
pecado sai. Como por um homem o pecado
reina, por outro homem o perdão
prevalece. O perdão é superior à culpa, e anula o pecado. Ainda que o pecador
esteja perdido em meio à sujeira e à lama de seus atos, Cristo tem autoridade
para perdoá-lo, inocentando-o de seus erros, e levando-o de volta ao estado
paradisíaco, ou seja, de comunhão com Deus. Este perdão de Cristo é anunciado
no Evangelho, o anúncio de Deus ao mundo de que o pecado foi vencido na cruz de
Jesus Cristo.
13. Jesus,
filho de Maria e José nasceu por milagre do Espírito Santo. Ele descende de
pais humanos e remonta sua ancestralidade até Adão. Ele tem sua entrada no mundo
em analogia à entrada de Adão, uma vez que assim como Adão veio de Deus, também
Cristo de Deus veio. Ambos têm o mesmo Pai, e são fruto do Espírito de Deus, o
sopro de Deus. Se a terra é mãe de Adão, Maria também é pó, também é terra. Se
o primeiro era inocente em seu estado existencial, o segundo além de ser
inocente, assim permanece para sempre. O fato de Cristo haver nascido
biologicamente dá-lhe irmandade com todos os homens. E ter nascido em pleno
governo romano, dá-lhe algemas políticas tanto quanto a nós. Ter vivido em
cultura judaica o condiciona tanto quanto a nós. Ser chamado de rabino o
aproxima de nossas religiões. Cristo é verdadeiro homem, co-existente com o
Eterno e conosco, por isso, pode fazer ponte entre a terra e o céu.
14. Uma
vez perdoados de nossos pecados, somos emancipados do poder de Satanás, e
enviados pelo mundo com a palavra do Evangelho. Estamos autorizados por Deus a
salvar o que tem se perdido, libertar o que estiver cativo, alimentar o
faminto, ressuscitar quem morto estiver. Este envio ao mundo decaído é uma
missão, ou tarefa missionária. É encontrar o pecador envolvido com a política
satânica e despertá-lo de sua indolência. É gritar a plenos pulmões que o tempo
está cumprido e o Reino de Deus chegou a nós. É enfrentar as legiões de Satanás
e participar da vitória do Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo.
15. A
salvação de Jesus Cristo abarca o homem todo, significando que nenhuma unha do
pecador pode permanecer no Egito, ou, serviço ao pecado. O homem todo quer dizer
alma, corpo e espírito. Quer dizer sua casa e seus empreendimentos, seus
sentimentos e intenções, seu presente e futuro, suas renúncias e ganhos. O
homem todo quer dizer sem reservas e parcialidades, por que foi assim que Jesus
entregou-se por nós. Ele inteiro deu-se pelo pecador, sorvendo nosso veneno e
morrendo nossa morte. Ele esteve por três dias no mundo dos mortos, aprisionado
no sepulcro. Mas ao terceiro dia deus o levantou do túmulo, e deu-lhe
autoridade sobre a morte e o inferno. Também o assentou à sua direita
dizendo-lhe que permaneça ali até que haja posto todos seus inimigos por apoio
a seus pés. Seu reino não tem fim, por que ele está vivo para sempre...
16. O
missionário é o amigo de Jesus Cristo, e pode falar dele livremente, a todos os
homens, em todos os lugares, e qualquer ocasião. Não precisa preocupar-se com o
túmulo, pois está vivendo e reinando com Cristo. Pode falar com o Pai a
qualquer momento, sobre qualquer assunto, pois conta com a mediação de Jesus e a
assistência do Espírito Santo até que sua vida terrena chegue ao fim. O
missionário é amado pelo Pai, e pode confiar na bondade de Deus para agraciá-lo
em meio às vicissitudes e tentações do inferno. Será guardado do mal e receberá
a coroa da vida.
17. Mas
é preciso manter-se leal até o fim, não se esquecendo de sua vocação e eleição.
Deve batalhar pela fé, lutando com feras, serpentes e escorpiões. Sustentar a
verdade ao custo de sua existência terrena e não ter por preciosa nenhuma de
suas posses. Poderá sofrer desventuras, pesares, tristezas e revezes. Nunca
poderá confiar em suas próprias habilidades, mas colocá-las ao serviço de Jesus
Cristo. O missionário é um peregrino em terra alheia, e seu endereço certo está
no céu.
18. Que
Deus norteie seus filhos à vocação missionária, dando-lhes chamado ao campo em
colheitas, eis minha singela oração, em nome de Jesus Cristo, Senhor Eterno.
Rogério
de Sousa