segunda-feira, 9 de abril de 2012

A Importância da Filosofia

Introdução


Muito se questiona na sociedade popular, qual a importância da filosofia para a vida real. No imaginário das gentes, filosofia é “perca de tempo”. Julgam que o filósofo é alguém “fora da realidade”, que se põe a falar difícil e ninguém o entende, nem ele mesmo. Não sabem que ao fazerem esta crítica, nas palavras de Heidegger, também estão filosofando:

"... já estamos na filosofia porque a filosofia está em nós e nos pertence; e, em verdade, no sentido de que já sempre filosofamos. Filosofamos mesmo quando não sabemos nada sobre isso, mesmo que não "façamos filosofia". Não filosofamos apenas uma vez ou outra, mas de modo constante e necessário porque existimos como homens. Existir como homem significa filosofar. O animal não pode filosofar. Deus não precisa filosofar. Um Deus que filosofasse não seria Deus porque a essência da filosofia é ser uma possibilidade finita de um ente finito”

De fato, em todas as sociedades humanas sempre se observou o fenômeno filosófico. Lemos na Introdução aos Livros Sapienciais as palavras do padre Joaquim Salvador afirmando que “em toda a vasta região que incluímos sob a expressão Oriente Antigo, o estudo da sabedoria de tal modo que se enraizou, que se tornou proverbial dizer que o Oriente era a pátria da sabedoria[1]”. Defender que o Oriente detenha a paternidade da sabedoria é fazer eco aos chamados orientalistas, os quais, antes de Sócrates, Platão e Aristóteles, citam Buda, Lao-Tsé e Zoroastro. Em linhas gerais, a filosofia nasce no espírito humano a partir do contraste entre o que chamamos senso comum e pensamento crítico. No instante em que o ser humano questiona se “esta é a verdade absoluta sobre isto e aquilo”, o senso crítico o coloca do universo filosófico.

Razões para filosofar


Luiz Sayão[2] elenca três razões que dão importância ao ato de filosofar:

1.      detectarmos o nosso próprio sistema de valores;
2.      adquirimos capacidade crítica para filtrar o que nos é apresentado;
3.      entendermos nossa época, as tendências da sociedade e interpretar o mundo.

Se a escala de razões de Sayão estiver correta, a filosofia nossa de cada dia deve ser categorizada não como tarefa acessória, algo um tanto trivial e acidental. Deve ser categorizada como necessária para a vida humana. Lendo As Sementes da Dúvida, compreendemos no capítulo intitulado “O problema da Contingência” que o necessário se impõe ao contingente, ou seja, o necessitarismo entende que “tudo o que ocorre [no universo] não poderia deixar de ocorrer ou ocorrer de forma diversa”. O que é necessário aqui e agora, não pode deixará de ser em tempo ou lugar algum. O contingente é acessório, pode ou não ocorrer. Se ocorrer hoje, pode desaparecer amanhã e pouca diferença fará para além de seu próprio círculo existencial.
A filosofia no Brasil tem sido tratada como acessória. Está nos currículos universitários de quase todos os cursos, nas salas de aulas do ensino médio, nos sites de cursos à distância, nos programas de televisão, nas reportagens de domingo, nas revistarias e bancas de jornal, contudo, desde os dias de Gonçalves de Magalhães (1811-1882), os filósofos ecoam este pedido: “Convém que o Governo ao menos uma vez lance os olhos sobre a mocidade, que faça ensinar nas escolas uma Moral pura, uma filosofia sã, e nutra o sentimento do amor divino”.

Os filósofos brasileiros querem que a filosofia seja categorizada como necessária para a formação de seu povo. Um povo que seja educado para “detectar seu próprio sistema de valores”, crivando-o com os rigores da razão sobre o certo e o errado, o autêntico e o imitado, o permissível e o reprovável, o nosso e o importado. Querem ver seu povo “adquirindo capacidade crítica para filtrar o que lhe é apresentado”, duvidando com Descartes, investigando com Kant, satirizando com Voltaire, provocando com Nietzche, existencializando com Heidegger, enfim, querem ver o brasileiro socratizando com seus interlocutores, questionando a certeza de todas as coisas. Querem ver seu povo “entendendo a própria época, as tendências de sua sociedade e interpretando seu mundo”, afinal, o Brasil está em ebulição, e dentro dele existem muitos brasis. Não dá para simplesmente guardar saudosismo por um país sonhado e desconhecido. É preciso identificá-lo, contextualizá-lo, projetar sobre ele e propor utopias.

Conclusão


A importância da filosofia reside em sua própria origem, postando-se como ciência humana a serviço da razão, ganhando o status de saber perfeito - em alguns círculos – e de saber conhecer – em outros. Mas tal importância é bem mais restrita aos amigos da sabedoria do que eles gostariam, pois quando ganha as ruas, a filosofia deixa de ser ciência par ser piada. Mario Quintana dizia que “a filosofia é uma coisa com a qual e sem a qual o mundo continua igual”, outros dizem que “o trabalho de um filósofo é semelhante ao esforço de um cego trancado em um quarto escuro procurando um gato preto que nunca foi posto lá”, e assim seguem as chacotas. Por nossa vez, reafirmamos com Heidegger que "... já estamos na filosofia porque a filosofia está em nós e nos pertence; e, em verdade, no sentido de que já sempre filosofamos. Filosofamos mesmo quando não sabemos nada sobre isso, mesmo que não "façamos filosofia". Não filosofamos apenas uma vez ou outra, mas de modo constante e necessário porque existimos como homens. Existir como homem significa filosofar. O animal não pode filosofar. Deus não precisa filosofar. Um Deus que filosofasse não seria Deus porque a essência da filosofia é ser uma possibilidade finita de um ente finito



Bibliografia


ABRÃO, Bernadette Siqueira. História da Filosofia. Ed. Nova Cultural. 1999
HEIDEGGER, Martin. Introdução à Filosofia. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 2008
LUFT, Eduardo. As Sementes da Dúvida. Mandarim. São Paulo. 2001
SALVADOR, pe. Joaquim in, Livros Sapienciais. São Paulo, Abril Cultural, 1985
SAYÃO, Luiz Alberto Teixeira. Cabeças Feitas. Filosofia Prática para Cristãos. São Paulo. 2004 


[1] SALVADOR, pe. Joaquim in, Livros Sapienciais. São Paulo, Abril Cultural, 1985
[2] SAYÃO, Luiz Alberto Teixeira. Cabeças Feitas. Filosofia Prática para Cristãos. São Paulo. 2004  

Nenhum comentário:

Postar um comentário