segunda-feira, 9 de abril de 2012

A Paidéia Homérica


            Paideia, segundo Werner Jaeger, era o "processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga. Inicialmente, a palavra paidéia (de paidos - criança) significava simplesmente "criação de meninos". Mas, como veremos, este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais tarde adquiriu[1]”.

            Temos na pedagogia atual a universalização do ideal grego de educação. Segundo o povo da Hélade, o homem devia conduzir-se de forma virtuosa entre seus pares. Em Homero “a virtude [...] significava o mais alto ideal cavalheiresco aliado a uma conduta cortesã e ao heroísmo guerreiro[2]”. A grande questão levantada na Paidéia diz respeito à origem da areté (virtude). Seria dom divino ou práxis humana? Poderia ser ensinada, transmitida, preservada ou alterada? Era para todos ou para alguns? Podemos acertadamente concluir que a paideia grega passou por uma evolução antropológico-pedagógica que permitiu aos helenos romperem com as antigas concepções de mundo baseadas na força da tradição teogônica-aristocrática. Com o processo de ruptura em andamento, temas políticos, econômicos, culturais e espirituais foram passados em revista e novos problemas de ordem epistemológica foram levantados: “Pode o sujeito realmente apreender o objeto? Qual a fonte e a base do conhecimento? É o sujeito que determina o objeto ou este que determina o sujeito? Há, além do conhecimento discursivo, racional, um conhecimento intuitivo? Há um conhecimento verdadeiro, e, se há, como podemos conhecer e saber quanto vale essa verdade?[3]” Educar o homem para a virtude, como propunha a paidéia, tornou-se tarefa crítica entre os helenos. Os povos do mar, como eram conhecidos, respiravam sua existência em torno da teogonia, ou, genealogia dos deuses.
“Essas teogonias e cosmogonias não [eram] o produto pessoal de seus autores [Hesíodo e Homero], a quem coube a feitura literária, mas o eco de comuns representações religiosas, assim também sentenças morais e regras de prudência[4]".
A força destas teogonias era tamanha na sociedade antiga, mesmo porque extraía do mito o sentido de todas as coisas. Ao ouvirem a recitação dos Trabalhos e os Dias de Hesíodo, punham-se a imaginar Prometeu roubando o fogo de Zeus e atraindo a ira do deus olímpico sobre os mortais. Tornara-se inevitável associar as mazelas da vida ao castigo divino. Os aedos[5] cantavam o mito de Pandora destampando seu jarro e deixando escapar todos os males sobre os homens “e a mulher deixa de ser exaltada [...] para ser caracterizada [...] como mais uma boca a alimentar e a exigir sacrifícios[6]”. No tempo de Sócrates o poder do mito lhe permitiu viver ainda trinta dias após sua sentença, pois “como acontecia todos os anos, um navio oficial [era] enviado ao santuário de Delos para comemorar a vitória de Teseu [e] enquanto o navio não regressasse nenhum condenado podia ser executado[7]”.


[1] Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paideia, ultimo acesso em 13/04/11, às 21:48 h
[2] SOUZA, José Cavalcante, Os Pré-Socráticos – Vida e Obra. São Paulo, Ed. Nova Cultural, 1999  p.9
[3]SANTOS, Mário Ferreira dos, Convite à Filosofia e à História da Filosofia, São Paulo, Ed. Logos. p.60
[4]SANTOS, Mário Ferreira dos, Convite à Filosofia e à História da Filosofia, São Paulo, Ed. Logos p.101 
[5] Um aedo (em grego clássico ἀοιδός / aoidos, do verbo ᾄδω / aidô, "cantar") era, na Grécia antiga, um artista que cantava as epopeias acompanhando-se de um instrumento de música, o forminx (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Aedo. Último acesso em 14/04/11, 23h28min h
[6]SOUZA, José Cavalcante, Os Pré-Socráticos – Vida e Obra. São Paulo, Ed. Nova Cultural,  1999  p.13
[7]PESSANHA, José Américo Motta, Sócrates, Vida e Obra. São Paulo, Ed. Nova Cultural ,. 1999 p. 11 

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