segunda-feira, 9 de abril de 2012

Interpretação do Artigo: “Deus na Filosofia Existencial de Karl Jaspers”

Qual a importância da Filosofia para se pensar e propor uma análise crítica sobre o fenômeno existencial do conhecimento sobre Deus?

Resumo


O artigo em análise tem por título “Deus na Filosofia Existencial de Karl Jaspers”. O autor – Natanael Gabriel da Silva – realizou sua pesquisa no livro Filosofia da Existência, publicado em português pela editora Imago em 1973 – Rio de Janeiro. A proposta de Natanael é “trazer à discussão a tentativa de Jaspers no dizer sobre Deus”. Segundo o autor, Jaspers procura elaborar uma filosofia existencial em contraste direto com Heidegger, uma vez que este propunha uma filosofia existencial em torno da ontologia, ou seja, do ser-aí, objetivado, historicizado, localizável e datável. Jaspers, sendo teísta, quer propor outro eixo, que não seja o teológico ou ontológico, mas filosófico existencial.

Visão Geral


O texto de Natanael se apresenta em 13 laudas, tendo o assunto dividido em:
·         Introdução
·         O Uno como Realidade Abrangente
·         As Cifras como Leitura Transcendental
·         Deus como Cifra da Realidade Abrangente
·         Conclusão

Na introdução, o autor lança quatro conceitos chaves a serem discutidos no artigo:
·         Discurso Profético
·         Problema Simbólico
·         Reserva de Sentido
·         Possibilidade de in-compreensão

Em O Uno como realidade Abrangente, Natanael usa frases como:
·         A filosofia rompe com a ontologia
·         A realidade abrangente sempre anuncia simplesmente
·         O ser humano se torna ser
·         A fonte do ser é o vazio
·         A relação entre o divino é a liberdade
·         Na realidade abrangente está o ser em si mesmo
·         A abertura se faz pelo filosofar
·         A fé filosófica tem o seu fundamento na liberdade

Em As Cifras como Leitura Transcendental, encontramos o autor dizendo que:
·         A tarefa de tentar diferenciar os signos e os símbolos das cifras em Jaspers não é fácil.
·         A diferença essencial [...] é que os signos e símbolos são [categorizações]
·         As cifras [estão] além [do símbolo, do signo e da metáfora]
·         [Cifra] é a linguagem da transcendência, [é meio de comunicação subjetivo/existencial]
·         As cifras possibilitam a leitura existencial do ser transcendente/incomunicável.
·         Nas cifras, há uma ruptura necessária entre sujeito e objeto

Em Deus como Cifra da Realidade Abrangente, são identificadas três cifras:
·         Deus Uno
·         Deus Pessoal
·         Deus Homem

Na conclusão, lemos textualmente que:

“... a leitura que Jaspers faz da analítica existencial de Heidegger, limitando o Dasein à existência empírica, parece ter mais um pressuposto teológico da realidade abrangente, do que uma filosofia da existência. Para superar o Dasein teria que haver o apontamento da possibilidade de leitura sobre o sentido de ser, a partir de outro enfoque, e não da realidade abrangente, que acaba se tornando uma releitura da metafísica escolástica.” 

Interpretação   


O diálogo sobre a incomunicabilidade de Deus foi aberto pelos teólogos apofáticos, como Dionísio Areopagita, João Clímaco e Boaventura, os quais afirmavam algo sobre Deus, do tipo “Deus é Pai”, depois negavam que Deus fosse Pai como os pais que se conhecem, para depois conceituarem o Deus Pai a partir do próprio Deus, e não da analogia com a paternidade. Quando Jaspers propõe, segundo o autor do artigo, a cifra como superação da linguagem convencional de signos e símbolos, temos um retorno à teologia apofática. Ainda que procurando negar que sua filosofia seja teologia, Jaspers, conforme Natanael, não cumpre o propósito de seu empreendimento.

A filosofia existencial, desde sua origem, quer pensar o homem e sua relação com o todo das partes. Ela pergunta sempre se o homem é o que é, independente das contingências existenciais, ou se ele é o resultado dos fatores externos a si mesmo. Via de regra, a filosofia existencial enxerga na objetividade um obstáculo à formação autêntica do indivíduo. Para que o homem se afirme humano, seria necessário primeiramente subjetivar o todo (Kierkgaard), e interiorizar o fenômeno humano até que a verdade objetiva, oferecida exteriormente, encontre eco interior no homem subjetivo. Mas Jaspers quer mais. Quer fazer do subjetivismo humano o único meio de transcender em direção ao ser-mais-que-Deus.

O articulista encontra dificuldades com os termos jasperianos, mesmo por que a proposta é irracional. É querer fazer filosofia, teologizando, mas sem teologia, ontologizando sem conceituar o ser. Se por um lado Jaspers não quer usar signos lingüísticos, não consegue se livrar deles; se por outro quer superar o uso do símbolo [ou da metáfora], se vê preso ao uso da cifra [que é tanto símbolo quanto metáfora].

Por fim, a filosofia jasperiana continua uma proposta de diálogo sobre o Deus incomunicável, em termos de inconformidade com a teologia das palavras, conceitos e símbolos. É uma provocação aos teólogos e filósofos, para que estes não fechem o assunto sobre Deus no ponto em que está. Não se conformem com a sistematização da vida e do mundo, como coisa acabada.

 

Justificativa


Escolhi este tema por causa de sua jovialidade no universo filosófico. O existencialismo conta com poucos representantes importantes. Poucos o assumem, de fato, como escola filosófica norteadora para o pensamento contemporâneo. De forma irresponsável muitos usam o termo “existencial” como sinônimo para qualquer fenômeno individualista. Mas o existencialismo filosófico não é do naipe do senso comum. É uma resposta revolucionária ao todo e às partes da existência. É uma postura que se responsabiliza não somente pelo aqui e já, como também pelo além e lá.

Eu, particularmente, procuro realizar uma leitura existencial do mundo. E procuro não fechar as portas do entendimento a nenhuma probabilidade epistemológica, embora mantenha minhas defesas dogmáticas no que tange à fé em Deus. Penso o existencialismo pelo viés do teísmo, e mais restritamente, pelo viés do cristianismo. Daí haver muito que se discutir ainda sobre o existencialismo, já que encontramos de um lado os teólogos e do outro, os ateus. Todos se identificando com o existencialismo. Uns pensando sobre como construir uma ponte sobre o abismo da divindade. Outros negando que haja abismo, portanto, ridicularizando o trabalho dos construtores de pontes.

Referência:


SILVA, Natanael Gabriel da, Deus na Filosofia de Karl Jaspers. http://www.4shared.com/document/nx2_ynju/Deus_na_filosofia_existencial_.htm

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